As predicted, this blog has fallen into shameless disuse.
Shameless.
Which is probably a good thing, since, on the one hand, this probably means I am getting some amount of work done. Although, on the other, there are plenty of busy graduate student bloggers out there who seem to manage both school and regular, high caliber blogging. I guess you can't have it all.
With that said, being a cut behind the rest I decided to employ a cheap trick and dust this blog off with a short story I wrote for my Portuguese composition class. I suppose it represents my own attempt at bridging the social science and humanities in the form of urban literature.
----
O meu avô não tinha nenhum desejo de
deixar as Ilhas Filipinas. Quando os japoneses atacaram a capital Manila, sua
cidade natal, ele se obrigou a fugir como refugiado aos Estados Unidos. A
captura da cidade foi rápida, e em meio da fuga sua família perdeu todos as
suas posses materiais. Não obstante, ele não esqueceu de levar consigo mesmo
uma parte da sua pátria.
A metrópole de Los Angeles é fragmentada,
como um quebra-cabeça. Qualquer imagem de satélite revelaria a grade geométrica
da zona ocidental da cidade, composta de retângulos cinzentos e pretos que
representam os edifício e os depósitos dos vastos parques comerciais. Mas no meio há um pequeno retângulo verde,
uma estrela resistindo a ser engolido do abismo industrial. Isso era a nova
casa do meu avô materno, sua própria contribuição para o caos urbano.
Quando ele não estava trabalhando como
telefonista, ele gastava a maior parte do seu tempo livre reconstruindo uma
pequena parte do seu mundo perdido. E o que surgiu era um oásis dentro de um
deserto pós-fordista.
No quintal da casa, um anel de palmeiras
cercavam um lago raso, onde os lírios de água e cágados flutuavam
tranquilamente na superfície da água. No meio do lago, uma ilha com uma cabana
de palha tinha vista para um campo de árvores nativas das Filipinas.
Quando éramos crianças e visitávamos
nosso avô, os meus primos e eu gostávamos de fingir que éramos exploradores em
uma floresta tropical. Caçávamos essa presa esquiva, o langostim, que se
escondia nas águas nubladas do lago. Maliciosamente tentávamos empurrar uns aos
outros na água escura, onde a pobre vítima seria devorada pelas “piranhas,” os
peixes pequenos que nadavam ao redor de nossos pés.
Durante um dos nossos jogos, fingíamos estar
em um safári. Com dias sem alimento, era
preciso que caçássemos animais grandes, e não seguir com nossa pesca
insatisfatória de langostins e peixes.
Na margem do lago avistei um pássaro
branco e alto, ficando serenamente de um pé só, e suavemente limpando o bico
com o pé livre. Eu tinha um pedregulho na mão, pronta para disparar a besta. Queria
provar para o resto que eu era a maior caçadora.
Quando eu estava prestes a atirar a
pedra, o meu avô veio correndo e me deu um tapa no rosto. Ele ficava furioso. Me avisou que causar dano físico aos
pássaros era má sorte, e que se eu tivesse machucado este passarinho sua casa e
nossa família seriam amaldiçoadas. Um mês se passou, em que tivemos que nos
contentar em ser humildes pescadores de novo.
Um dia, nossos pais nos disseram que já
não poderíamos jogar no quintal do nosso avô: ele estava gravemente doente,
eles nos disseram, e os médicos não sabiam o que estava errado com ele. Padres
católicos foram convidados a dar suas bênçãos para ele, mas não tiveram nenhum
efeito.
Chegou o dia em que tivemos que sair da
casa. Me separei de meus primos e andei para o lago. A água estava
completamente imóvel. Do outro lado do lago, o pássaro branco apareceu repentinamente,
seus pés na água e com o mesmo comportamento tranquilo.
Meu avô tinha me avisado do crime de
ofender tal besta. Entretanto, se as conseqüências fossem verdades, isso
significaria que ele era mais poderoso de que os humanos cuidando do meu avô. Perguntei
ao pássaro se podia usar seus poderes para curar o meu avô. Como resposta, ele
bateu as asas e voou para longe. Foi a última vez que eu vi aquele pássaro no
quintal do meu avô.
No dia seguinte, meu avô ficou completamente
curado. Sentiu-se tão energético, tão livre, que ele decidiu colher todas as
frutas maduras das árvores, bem como consertar o telhado da cabana de palha.
Agora que sou adulta, minha educação me
leva a acreditar que a medicina ocidental é suprema, e que tais superstições
são absurdas. Às vezes eu temo que minha fidelidade a esta velha lembrança passe
a fragmentar a lógica da minha visão do mundo, e que eu sou, de fato, amaldiçoada
a partir desse encontro de infância com aquele pássaro branco e misterioso.