Monday, October 31, 2011

La desaparecida


As predicted, this blog has fallen into shameless disuse.

Shameless.

Which is probably a good thing, since, on the one hand, this probably means I am getting some amount of work done. Although, on the other, there are plenty of busy graduate student bloggers out there who seem to manage both school and regular, high caliber blogging. I guess you can't have it all. 

With that said, being a cut behind the rest I decided to employ a cheap trick and dust this blog off with a short story I wrote for my Portuguese composition class. I suppose it represents my own attempt at bridging the social science and humanities in the form of urban literature. 

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O meu avô não tinha nenhum desejo de deixar as Ilhas Filipinas. Quando os japoneses atacaram a capital Manila, sua cidade natal, ele se obrigou a fugir como refugiado aos Estados Unidos. A captura da cidade foi rápida, e em meio da fuga sua família perdeu todos as suas posses materiais. Não obstante, ele não esqueceu de levar consigo mesmo uma parte da sua pátria.

A metrópole de Los Angeles é fragmentada, como um quebra-cabeça. Qualquer imagem de satélite revelaria a grade geométrica da zona ocidental da cidade, composta de retângulos cinzentos e pretos que representam os edifício e os depósitos dos  vastos parques comerciais.  Mas no meio há um pequeno retângulo verde, uma estrela resistindo a ser engolido do abismo industrial. Isso era a nova casa do meu avô materno, sua própria contribuição para o caos urbano.

Quando ele não estava trabalhando como telefonista, ele gastava a maior parte do seu tempo livre reconstruindo uma pequena parte do seu mundo perdido. E o que surgiu era um oásis dentro de um deserto pós-fordista.

No quintal da casa, um anel de palmeiras cercavam um lago raso, onde os lírios de água e cágados flutuavam tranquilamente na superfície da água. No meio do lago, uma ilha com uma cabana de palha tinha vista para um campo de árvores nativas das Filipinas.

Quando éramos crianças e visitávamos nosso avô, os meus primos e eu gostávamos de fingir que éramos exploradores em uma floresta tropical. Caçávamos essa presa esquiva, o langostim, que se escondia nas águas nubladas do lago. Maliciosamente tentávamos empurrar uns aos outros na água escura, onde a pobre vítima seria devorada pelas “piranhas,” os peixes pequenos que nadavam ao redor de nossos pés.

Durante um dos nossos jogos, fingíamos estar  em um safári. Com dias sem alimento, era preciso que caçássemos animais grandes, e não seguir com nossa pesca insatisfatória de langostins e peixes.

Na margem do lago avistei um pássaro branco e alto, ficando serenamente de um pé só, e suavemente limpando o bico com o pé livre. Eu tinha um pedregulho na mão, pronta para disparar a besta. Queria provar para o resto que eu era a maior caçadora.

Quando eu estava prestes a atirar a pedra, o meu avô veio correndo e me deu um tapa no rosto. Ele ficava  furioso. Me avisou que causar dano físico aos pássaros era má sorte, e que se eu tivesse machucado este passarinho sua casa e nossa família seriam amaldiçoadas. Um mês se passou, em que tivemos que nos contentar em ser humildes pescadores de novo.  

Um dia, nossos pais nos disseram que já não poderíamos jogar no quintal do nosso avô: ele estava gravemente doente, eles nos disseram, e os médicos não sabiam o que estava errado com ele. Padres católicos foram convidados a dar suas bênçãos para ele, mas não tiveram nenhum efeito.

Chegou o dia em que tivemos que sair da casa. Me separei de meus primos e andei para o lago. A água estava completamente imóvel. Do outro lado do lago, o pássaro branco apareceu repentinamente, seus pés na água e com o mesmo comportamento tranquilo.

Meu avô tinha me avisado do crime de ofender tal besta. Entretanto, se as conseqüências fossem verdades, isso significaria que ele era mais poderoso de que os humanos cuidando do meu avô. Perguntei ao pássaro se podia usar seus poderes para curar o meu avô. Como resposta, ele bateu as asas e voou para longe. Foi a última vez que eu vi aquele pássaro no quintal do meu avô.

No dia seguinte, meu avô ficou completamente curado. Sentiu-se tão energético, tão livre, que ele decidiu colher todas as frutas maduras das árvores, bem como consertar o telhado da cabana de palha.

Agora que sou adulta, minha educação me leva a acreditar que a medicina ocidental é suprema, e que tais superstições são absurdas. Às vezes eu temo que minha fidelidade a esta velha lembrança passe a fragmentar a lógica da minha visão do mundo, e que eu sou, de fato, amaldiçoada a partir desse encontro de infância com aquele pássaro branco e misterioso.